domingo, 23 de abril de 2017

CRÔNICA DO DIA DE SÃO JORGE NA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO. (I)
Era um domingo, 23 de abril de 1792. Eu havia acabado de saltar da falua que me trouxe do brigue "Fletcher", ancorado a uma milha de distância do cais dos mineiros. Pisei na escadaria que levava ao Terreiro da Polé e após galgar uns doze ou quinze degraus, logo me deparei com uma cena das mais insólitas que já havia visto em minha vida: um número infindável de negros espalhados em volta de um chafariz do qual água jorrava em pequenos esguichos e que os mesmos negros aproveitavam para encher suas bicas. Uma parte deles já se afastava do chafariz com suas bicas na cabeça enquanto outros chegavam para esperar sua vez na aglomeração que nunca se desfazia. 
Ali perto outras negras andavam com tabuleiros oferecendo toda espécie de doces e quitutes aparentemente apetitosos e a preços módicos. Deu-me de repente uma certa vontade de prová-los, mas achei que isso não seria de bom juízo, uma vez que meu estômago poderia não estar preparado para tais iguarias nativas ou preparadas à moda de África. Homens elegantes de sobrecasaca, cartola e bengala eram os que compravam os petiscos vendidos pelas mulheres africanas.Era uma cena dantesca que se completava com o calor torrante que circundava toda a área. Para completar a paisagem nada nada agradável aos olhos de um intrépido visitante, reparei um pouco mais além do centro do Terreiro, uma língua negra de água suja que se estendia da ponta de um cano de pedra em direção ao dito Terreiro. Achei aquilo de um dissabor sem fim sem tamnho, numa cidade que se dizia sede do vice-reino do Brasil. Foi quando alguém gritou para mim: 
--Bem-vindo à Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, Mr Clark Stone!!
Era o meu guia que ficou de me receber ali, bem de frente ao Palácio do Vice-Rei do Brasil, D. Luis de Vasconcellos e Sousa. Fiquei impressionado pelo tamanho do imóvel, residência da maior autoridade do Brasil à época, superada apenas pela realeza em Lisboa. 
Logo meu guia, um português que se achava no Brasil havia já doze anos e era também comerciante, me conduziu a uma sege, bem equipada com cortinas e bancos de couro, assim como decoração em estilo D. José. Notei nele um certo ar de curiosidade para saber como havia sido minha viagem de Lisboa até aqui. Logo respondi:
--Cansativa, meu rapaz. 20 dias num navio, ainda que veloz, como são as embarcações inglesas, é de tirar a tenacidade de qualquer "gentleman", ao que ele educadamente replicou: 
--Sim, sir. Noto que seus olhos estão realmente muito fundos. isso é sinal de longo tempo no mar e de balanço de barco. Mas agora que V. Senhoria está no Brasil, logo logo se recurerará. 
Assim, ele deu ordem ao cocheiro que se mantinha em pé logo ali atrás da cabine em que nos encontrávamos, para seguir pela Rua Direita e depois virando à esquerda, tomando o caminho de Capueruçu, rumo à chácara de Antônio Joaquim, um rico comerciante que morava em Mata Cavalos. O cocheiro, um negro alto, forte e metido em libré vermelho, chamava a atenção por vestir farda distinta da maioria da roupa usada pelos escravos que se achavam pelas ruas da cidade. Os pés, porém, descalços, pois era muito comum aos negros cativos não se darem ao conforto de couro e panos em volta dos pés.Dali rapidamente partimos em ritmo apressado para assim fugirmos um pouco do calor sufocante que fazia na cidade à margem de uma enorme baía, a da Guanabara.









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